Saúde
A ATENÇÃO ODONTOLÓGICA DURANTE A GRAVIDEZ
A gravidez representa um período único e relevante na vida da mulher. As gestantes são consideradas pacientes especiais para o tratamento odontológico devido às mudanças físicas, psicológicas e hormonais, que criam condições adversas no meio bucal.
É importante ressaltar que esta fase pode ser muito estressante para a futura mãe. Geralmente, a grávida tem muitas preocupações com a saúde e o bem estar do bebê; além disso, mudanças transitórias como aumento na atividade hormonal, aumento do débito cardíaco, variação na pressão arterial, anemia, alterações nos sistemas respiratório e gastrointestinal, podem ocorrer durante o período gestacional.
O conhecimento dessas alterações pelo cirurgião-dentista é fundamental para garantir o estabelecimento de um plano de tratamento seguro, realizado através de uma anamnese detalhada, incluindo uma história médica completa da paciente e a instituição de procedimentos adequados para cada período gestacional.
Durante a gravidez, mudanças relacionadas a fatores como estado transitório de imunodeficiência, microbiota bucal, metabolismo celular, deficiências nutricionais e presença de placa podem afetar a saúde dos tecidos gengivais, causando hipertrofia (aumento de volume), hiperemia (aumento do número de vasos sanguíneos), aumento da fragilidade e sangramento das gengivas. Pode também surgir o granuloma gravídico – lesão benigna, superficial, indolor – devido a uma resposta inflamatória exacerbada frente à placa bacteriana. Este tipo de lesão normalmente regride após o final da gravidez, porém se houver sangramento excessivo, alterações funcionais ou interferência na mastigação recomenda-se a remoção cirúrgica.
Na gestante, pode ocorrer um aumento na incidência de cárie relacionado principalmente a fatores como mudanças alimentares, aumento do apetite e da sede, e ansiedade por ingerir carboidratos e açúcares (sacarose) várias vezes ao dia.
As alterações gastrointestinais mais frequentes nas grávidas são as náuseas e vómitos matutinos, as variações na motilidade intestinal (prisão de ventre) e o refluxo da secreção gástrica. As náuseas podem interferir nos cuidados de higiene oral, mas, em geral, elas finalizam no primeiro trimestre. Com base nisso, o cirurgião-dentista deve avaliar o horário das consultas odontológicas, evitando agendamentos no período da manhã e realizando sessões curtas de no máximo 30 minutos.
Aspectos culturais, relacionados às crenças e tabus levam a uma repulsa, por parte das mulheres, ao tratamento odontológico realizado durante a gravidez. Geralmente as grávidas só buscam o atendimento odontológico com dor de dente ou quando o tratamento é realmente necessário. Alguns motivos que impedem as grávidas de procurarem atenção odontológica podem ser destacados a seguir:
“A perda de um dente é normal na gravidez, já que nesta fase os dentes enfraquecem facilmente”; “a cada gravidez um dente a menos na boca”. A gravidez não é a causadora da perda dos dentes. Esta ocorre em função da cárie dentária e doença periodontal, devido ao aumento da frequência de ingestão de carboidratos e à higienização precária.
“Medo do tratamento odontológico prejudicar o bebê”. Os riscos do tratamento odontológico durante a gravidez são menores que os riscos que alguns problemas bucais podem causar à mãe e ao feto.
“O exame radiográfico pode prejudicar o feto”. Se forem respeitadas as normas de segurança, as doses empregadas pelo cirurgião-dentista raramente atingirão níveis possíveis de causar danos.
“A gestante não pode tomar anestesia do dentista”. O dentista deverá avaliar se a paciente apresenta enfermidades sistêmicas que contraindiquem o uso de anestésicos locais com vasoconstrictores. A gravidez em si não contraindica o uso de anestesia.
“A mulher perde cálcio dos dentes para a formação de estruturas calcificadas do bebê”. O cálcio que o bebê necessita provém da alimentação da mãe, e quando esta for inadequada, virá de seus ossos.
“É normal sangrar a gengiva na gravidez”. Na ausência de placa bacteriana e outros agentes irritantes locais, não ocorre o sangramento gengival.
O programa preventivo fundamenta-se na instituição de um plano rigoroso de higiene oral, remoção de placa e cálculo dental. A manutenção de boa saúde bucal pode influenciar positivamente tanto na saúde geral da mãe quanto da criança. A prevenção das doenças gengivais deverá continuar no período pós-parto até o resto da vida.
O estabelecimento de um plano de tratamento odontológico adequado, um atendimento seguro e eficaz e com menos riscos de efeitos secundários aos bebês fundamenta-se no conhecimento do cirurgião-dentista sobre os trimestres da gravidez. No primeiro e terceiro trimestres o tratamento está direcionado ao cuidado emergencial, especialmente ao alívio da dor, aos procedimentos preventivos, adequação do meio bucal e estratégias educativas; deve-se evitar radiografias, usando-as de forma seletiva e quando for realmente necessário. O período indicado e mais seguro para o atendimento odontológico é o segundo trimestre. Nele o dentista pode realizar fluorterapia, pequenas cirurgias, restaurações e tratamento endodôntico.
O posicionamento da paciente é muito importante durante o tratamento para evitar complicações tanto para mãe como para o feto. As mais adequadas são as posições semi-sentada ou de lado, pois permitem o aumento do débito cardíaco e, consequentemente, o feto recebe uma maior quantidade de oxigênio, evitando a hipotensão.
Uma boa comunicação entre o dentista e os profissionais que acompanham o pré-natal é importantíssima, já que o auxilia a decidir os melhores períodos de intervenção e quais procedimentos podem ser realizados com segurança.
Dra. Fabiana Caribé Araújo Gomes
Odontóloga
Pós-Graduada em Odontopediatria
Doutora em Estomatologia
Contato: fcaribar7@gmail.com